Essa nossa tradicional cultural iniciou-se em cima da antiga Ponte de Madeira, quando o povoado de São Miguel passou à condição de Vila, fato que aconteceu no dia 10 de julho de 1832.
Foi através dessa via de passagem, sobre o Rio São Miguel, que a feira ganhou a sua indentidade, ou seja, “Feira da Ponte“.
A ponte dava acesso ao Engenho Sinimbu, atual Usina Caetė. Ela também serviu de suporte para os pescadores pegar os seus pescados, em especial o siri e o camarão.
Em seguida os peixes e os crustáceos eram vendidos para os moradores da vila. O comércio eram realizados em cima da ponte, no final da tarde.
Neste mesmo período o comércio atraiu diversos pescadores dos distritos de Barra de São Miguel, Roteiro e Jequiá da Praia, que traziam seus pescados, mariscos e crustáceos, transportados por canoas, Jagadas e barcos, através das águas do Rio São Miguel.
Eles chegavam em São Miguel, meia noite em ponto. Às embarcações eram iluminadas com velas, placas e candieiros, todas enfileiradas. A embarcação da frente era quem dava o sinal da chegada da tripulação, através de um Buzo.
Logo em seguida, eles atracavam as embarcações no “Porto do Bexiga”, depois saiam em direção a ponte de madeira, onde os produtos eram comercializados com os moradores, ao nascer da madrugada.
Segundo reza a história que a Feira da Ponte foi infuenciada pelos católicos, devido o jejuamento que eles faziam durante o decorrer da Semana Santa, onde não se alimentavam com carne vermelha, principalmente na Sexta-feira da Paixão.
No decorrer dos anos, quando a vila de São Miguel separou-se da vila de Santa Madalena da Lagoa do Sul, atual Marechal Deodoro e tornou-se cidade, pela lei 423, de 18 de junho de 1864, os outros distritos pertencentes ao município, Campo Alegre ( Mosquito ) e Boca da Mata, também agregaram-se a feira, os comerciantes traziam na bagagem, cereais, farinhas e frutas, os mantimentos eram transportados por cavalos de cargas e carroças de burros.
Com a extinção da ponte de madeira e com a construção da nova ponte de concreto, em 1950, a feira passou a ser realizada na Rua da Praia, atual Rua Antônio Jeremias de Menezes, também conhecida como Rua da Praça do Cais.
Na década de setenta, a feira cresceu bastante, chegando ao ponto de ser ampliada para outras ruas da cidade.
Nos idos de oitenta, a Feira da Ponte começou a ser divulgada por todo o Nordeste, onde vários comerciantes de Pernambuco, Bahia, Ceará e Paraíba, começaram a participar. Além desses estados, também as cidades alagoanas, de Anadia, Atalaia, Palmeira dos Índios Arapiraca, Penedo, Pilar, Marechal Deodoro, Coruripe, Maceió e a cidade sergipana de Carrapicho.
A feira desemvolveu ainda mais, com a chegada desses novos comerciantes, pois os feirantes miguelenses tinham mais opções de comprar, tais como: Roupas, calçados, alumínios, pratos, talheres, matériais de plásticos, bugigangas, enfeitos para casa, picolés, bolos e comidas típicas, além de utensílios de barros, como por exemplo: jarras, filtros, potes e as tradicionais panelas em miniaturas.
Durante o desenrolar da feira apareciam repentistas, violeiros, emboladores de côco, folquedos populares, livros de cordéis, bingos, jogos de azar e ciganas.
Depois dá mudança para a Praça de Multevento Prefeito Nivaldo Jatobá, a feira perdeu um pouco da sua tradição, principalmente com o avanço da tecnologia, onde começaram aparecer produtos importados da china como também outros materiais descartáveis.
O bem da feira é que a sua tradição cultural ainda continua, graça ao esforço da Prefeitura e da Secretaria Municipal de Cultura.
Apesar da mudança do local, a feira não perdeu a sua originalidade, ela continua sendo realizada às margens do Rio São Miguel.
Antigamente a Feira da Ponte começava na terça feira e terminava na madrugada de quinta feira.
Com a mudança para a Praça de Multevento, a feira ganhou mais um dia. Ela inicia-se logo após o término da feira oficial do município, ou seja, na segunda feira. Quatro dias, Antes da Paixão de Cristo.
Houve um ano que a maior atração da feira, foi o espetáculo da “Paixão de Cristo”, encenado pelos atores da ATAF – Associação Teatral, Arte e Fé, sobre a direção do diretor de teatro, André Carlos Vieira.
A Feira da Ponte é considerada uma das tradições culturais de Alagoas. Em 2020, ela foi tombada como “Patrimônio Histórico, Cultural e Material do Município”.
( Texto Escrito Por Ernande Bezerra de Moura )
Obs: Divido a Pandemia do Coronavirus, a Feira da Ponte, este ano não irá acontecer. Assim também foi o ano passado, na gestão anterior.
" Se cuide, pois nossa vida é mais importante do que qualquer evento cultural! "
* Membro Efetivo da Academia de Letras, Artes e Pesquisa de Alagoas - ALAPA.
Foto: Portal Notícias da Sua cidade.